VIDA SEXUAL DE PACIENTES COM DOENÇA CARDIOVASCULAR

Autores

  • Pedro Carretas Médico interno de MGF, UCSP São Pedro do Sul
  • Paula Rodrigues Médica assistente de MGF, UCSP Penalva do Castelo

DOI:

https://doi.org/10.58043/rphrc.111

Resumo

Introdução: A atividade sexual (AS) é uma componente essencial da qualidade de vida sendo motivo de grande preocupação em utentes com doença cardiovascular (CV). Existe um certo receio de que a AS possa vir a despoletar um evento cardíaco major, o que pode levar os utentes a uma evicção do ato sexual. Nestes pacientes, devido aos fatores de risco CV presentes, também é bastante comum o surgimento de disfunção sexual.
Objetivos: Revisão da literatura existente acerca das propriedades da atividade sexual em pacientes com doença cardiovascular estabelecida.
Metodologia: Revisão clássica baseada na pesquisa bibliográfica de artigos de revisão publicados na última década, em inglês e português, nas bases de dados Pubmed, Cochrane Lybrary e UpToDate, utilizando os termos MeSH: sexual activity e cardiovascular disease.
Resultados: A perceção de uma sobrecarga do esforço cardíaco associado à AS, foi inicialmente descrita em pacientes com angina estável que, frequentemente, referiam desconforto torácico durante ou imediatamente após a relação sexual. Durante o ato sexual, existe um aumento da frequência cardíaca (FC) e na tensão arterial (TA) de igual forma que acontece com qualquer forma de exercício físico. Em estudos realizados em “condições de vida real”, onde foi monitorizada a AS de casais nas suas próprias casas, foi registada uma FC média de 117 batimentos por minuto e uma TA média de 162/89 mmHg no clímax. O uso de terapêutica médica adequada pode prevenir a sintomatologia nestes pacientes e proporcionar uma vida sexual normal. Com vista a determinar o risco de enfarte agudo do miocárdio (EAM) pós-coito, foram realizados vários estudos case-crossover com resultados semelhantes. Demonstraram que a AS pode ser considerada um trigger para EAM, mas de forma transitória. Ou seja, como a AS é um trigger temporário que aumenta o risco por um período de cerca de 2 horas, o seu risco absoluto é mínimo. Baseado nestes estudos, um homem de 50 anos sem doença ou fatores de risco CV estabelecidos com um risco basal anual de EAM de 1%, ao adicionar AS semanal, o seu risco passa para 1,01%. O desempenho sexual é um importante componente de qualidade de vida e bem-estar. A prevalência de disfunção sexual, nomeadamente a disfunção eréctil (DE) nos homens, é maior naqueles que possuem doença CV do que na população em geral. Os inibidores da fosfodiesterase 5 (iPDE-5) são globalmente utilizados no seu tratamento. Uma importante limitação desta classe é a sua contra-indicação em pacientes que tomam nitratos, seja de forma regular ou intermitente. A toma simultânea de iPDE-5 e nitratos pode conduzir a hipotensão grave e síncope. Em contraste, os iPDE-5 são tipicamente bem tolerados com anti-hipertensores, apresentando uma redução mínima da TA.
Discussão: A AS está associada a um stress hemodinâmico moderado e aumenta o risco de EAM. Contudo, o seu risco absoluto é mínimo e pode ser minimizado. Os pacientes com doença CV deverão estar aptos a uma vida sexual normal, desde que devidamente acompanhados e aconselhados pelo seu médico assistente.

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Referências

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Publicado

2023-12-10

Como Citar

1.
Carretas P, Rodrigues P. VIDA SEXUAL DE PACIENTES COM DOENÇA CARDIOVASCULAR. RH [Internet]. 10 de Dezembro de 2023 [citado 21 de Dezembro de 2024];(98):13-5. Disponível em: https://revistahipertensao.pt/index.php/rh/article/view/111

Edição

Secção

Artigo de Revisão