PERFIL DE RISCO CARDIOVASCULAR NUMA UNIDADE DE SAÚDE FAMILIAR

Autores

  • Patrícia Silva Interna de 4o Ano de MGF – ACeS Baixo Vouga, USF Aveiro/Aradas, Assistente Convidada do Departamento de Ciências Médicas da UA, Portugal
  • Pedro Damião Médico assistente graduado de MGF – ACeS Baixo Vouga, USF Aveiro/Aradas, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.58043/rphrc.38

Palavras-chave:

Lesão de órgão alvo (LOA), Fatores de risco cardiovascular (FRCV ), Tabagismo, Hipertensão, Score de risco de Framingham (FRS)

Resumo

Introdução: As doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte em Portugal e no mundo, representam 37% de todas as causas na UE. O tabagismo desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de doença coronária prematura. O score de risco de Framingham (FRS) desenvolvido por D’ Agostino et col. é um método acurado para estratificar o risco de DCV, bem como, identificar os indivíduos em risco que são candidatos a estratégias de modificação de fatores de risco cardiovascular (FRCV). Os objetivos deste trabalho foram caracterizar a subpopulação de uma USF quanto à prevalência de FRCV e Lesão de Órgão Alvo (LOA), relacionando a associação dos principais FRCV com LOA recorrendo a um modelo estatístico de regressão logística (RL).

Métodos: Recorremos a uma análise exploratória de dados multivariada, partindo de uma amostra de conveniência (n=6290), anonimizada de utentes entre os 30 e os 74 anos de idade inclusive e com pelo menos uma consulta em 2018 numa USF.
A estimação do risco global de LOA foi calculada com base em um composto de doença coronária (DC), doença cerebrovascular (AVC, AIT), doença arterial periférica (DAP) e insuficiência cardíaca (IC), segundo os critérios do Framingham Heart Study, desenvolvido por Ralph B. D’ Agostino et col., em 2007. O modelo RL descreve a associação de LOA aos principais preditores de risco cardiovascular (i.e. idade, sexo, HTA, tabagismo, dislipidemia, DM2, obesidade). Foi avaliada a calibração do modelo X2, aplicando a estatística de teste Hosmer-Lemeshow goodness of fit (GOF) com 8 df. Para o cálculo do RCV estimado foram excluídos os utentes com diagnóstico de LOA, obtendo-se uma amostra com n=4360 casos.

Resultados: Num total de 6290 utentes entre os 30 e os 74 anos inclusive, a mediana de idades é de 52 anos. Aproximadamente 32,4% são hipertensos, 20,7% são fumadores ativos e 6,7% apresentam LOA diagnosticada. Aplicando ao modelo de RL, o teste GOF, não se encontrou diferença estatisticamente significativa entre a distribuição observada e a prevista pelo modelo: X2=10.517, df=8, p-value=0.2306.

O aumento de um ano na idade associa-se a um aumento de 8% na chance do caso ter LOA. Ser hipertenso mais que duplica (OR=2.1) a chance de LOA e fumar quase duplica a chance de LOA (OR=1.8). Observou-se diferença entre a média de idade dos fumadores e dos não fumadores com LOA (teste Mann-Whitney U, w= 7899.5, p<0.00001), respetivamente 57.8 anos e 64.4 anos.

Conclusões: A aplicação do FRS para estimação de risco de LOA (i.e. DC, AVC, DAP e IC) individual a 10 anos por associação de múltiplos FRCV permitirá uma abordagem terapêutica individualizada e custo-efetiva. A diferença entre a média de idade dos fumadores e não fumadores com LOA, respetivamente 57.8 anos e 64.4 anos, releva o impacto do tabagismo no aparecimento de LOA sobretudo nos mais jovens. Assim, a cessação tabágica é uma medida crucial na prevenção/atraso de LOA.

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Referências

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Publicado

2022-06-04

Como Citar

1.
Silva P, Damião P. PERFIL DE RISCO CARDIOVASCULAR NUMA UNIDADE DE SAÚDE FAMILIAR. RH [Internet]. 4 de Junho de 2022 [citado 25 de Abril de 2024];(81):8-15. Disponível em: https://revistahipertensao.pt/index.php/rh/article/view/38

Edição

Secção

Artigo Original