CRONOTERAPIA NO DOENTE RENAL CRÓNICO HIPERTENSO: UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA
DOI:
https://doi.org/10.58043/rphrc.49Palavras-chave:
Cronoterapia, Doença Renal Crónica, Anti-hipertensores, Morbimortalidade CardiovascularResumo
OBJETIVO: Esta revisão procurou avaliar, à luz da evidência atual, quais as diferenças no controlo da pressão arterial, no perfil tensional e no risco cardiovascular da administração de anti-hipertensores ao deitar (cronoterapia), comparativamente com a administração de anti-hipertensores fora do período noturno, no doente renal crónico hipertenso sem terapêutica renal de substituição, e verificar se essa evidência está representada nas atuais guidelines sobre o tema.
FONTES DE DADOS: The Cochrane Library, MEDLINE/PubMed, Direção Geral da Saúde, Sociedade Portuguesa de Nefrologia, Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Sociedade Portuguesa de Hipertensão, National Institute for Health and Clinical Excellence, European Society of Hypertension-European Society of Cardiology, National Guideline Clearinghouse, Canadian Medical Association, American Journal of Kidney Diseases e Kidney Disease: Improving Global Outcomes.
MÉTODOS: Pesquisa de meta-análises (MA), revisões sistemáticas (RS), ensaios clínicos controlados e randomizados (ECR) e guidelines publicados nas línguas inglesa, portuguesa e espanhola, sem restrição na data da publicação, combinando os termos MeSH: “Antihypertensive Agents”, “Drug Administration Schedule” e “Kidney Diseases”. Foi utilizada a escala Strength of Recommendation Taxonomy (SORT), da American Family Physician, para avaliação dos níveis de evidência e da força de recomendação. Os artigos que não cumprissem os objetivos desta revisão baseada na evidência foram excluídos.
RESULTADOS: Obtiveram-se 52 artigos científicos na pesquisa inicial, dos quais seis cumpriram os critérios de inclusão (uma MA, uma RS e quatro ECR). Da pesquisa de guidelines resultaram seis documentos com orientações clínicas. Os resultados obtidos indicam que, embora a eficácia na redução dos valores de pressão arterial diurna e nas 24h com a administração de fármacos anti-hipertensores ao deitar seja similar à da administração matinal, a cronoterapia transformou perfis não dipper/riser em dipper e reduziu, de forma significativa, os valores de tensão arterial no período noturno, bem como mostrou uma redução do risco cardiovascular. As guidelines não apresentam recomendações sobre o melhor horário para a toma do(s) anti-hipertensor(es). Em duas há referência à cronoterapia, levantando a dúvida se se traduzirá na melhoria dos outcomes do doente com DRC ou em benefícios cardiovasculares a longo prazo.
CONCLUSÃO: A administração de anti-hipertensores ao deitar poderá ser aconselhada no doente renal crónico com hipertensão de modo a diminuir a tensão arterial noturna e, como tal, reduzir o risco cardiovascular (força de recomendação B), facto que poderá sugerir uma atualização das guidelines atuais.
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