IMPACTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL NA COVID-19

Autores

  • Inês Cunha Interna/o de formação específica de Medicina Interna, Centro Hospitalar Tondela-Viseu. Portugal
  • Daniel Aparício Interna/o de formação específica de Medicina Interna, Centro Hospitalar Tondela-Viseu. Portugal
  • Andreia Lopes Interna/o de formação específica de Medicina Interna, Centro Hospitalar Tondela-Viseu. Portugal
  • Inês Bagnari Interna de formação específica de Cirurgia Geral, Hospital de Santo Espírito de Angra do Heroísmo. Portugal
  • Joana Cunha Interna/o de formação específica de Medicina Interna, Centro Hospitalar Tondela-Viseu. Portugal
  • Rui Marques Assistente hospitalar graduado de Medicina Interna, Centro Hospitalar Tondela-Viseu. Portugal
  • Vera Romão Assistente hospitalar de Medicina Interna, Centro Hospitalar Tondela-Viseu. Portugal

DOI:

https://doi.org/10.58043/rphrc.53

Palavras-chave:

Hipertensão arterial, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, COVID-19, SARS-CoV-2, pneumonia

Resumo

Introdução: O SARS-CoV-2 liga-se às células do hospedeiro através da enzima conversora da angiotensina 2. Vários estudos sugeriram que os hipertensos, pela expressão aumentada desta enzima nas células epiteliais alveolares, poderiam ter mais risco de contrair COVID-19 e ter um curso de doença mais grave. De facto, a hipertensão arterial foi descrita como uma das comorbilidades mais frequentes nos doentes com COVID-19 e foi sugerido associar-se a um pior prognóstico, nomeadamente a uma maior mortalidade. Contudo, muitos estudos iniciais não tiveram em conta alguns fatores confundidores como a idade, género e presença de outras comorbilidades, tornando-se de extrema importância a sua integração para melhor esclarecer o real impacto da hipertensão arterial no desenvolvimento e curso da COVID-19.

Objetivos: Averiguar a prevalência da hipertensão arterial em doentes internados por COVID-19 e as classes de anti-hipertensores por eles realizados. Analisar em doentes com COVID-19 as diferenças entre o grupo de doentes hipertensos e não hipertensos quanto a características demográficas, prevalência de comorbilidades frequentes, nomeadamente de diabetes mellitus e insuficiência cardíaca, sintomas mais frequentes de COVID-19, parâmetros analíticos e gasométricos, evidência radiográfica de pneumonia, sobreinfeção bacteriana, necessidade de internamento em unidade de cuidados intensivos, duração do internamento e taxa de mortalidade. Analisar a relação entre o valor de pressão arterial sistólica e diastólica na admissão no serviço de urgência com as características demográficas, comorbilidades, sintomas mais frequentes de infeção por SARS-CoV-2, evidência radiográfica de pneumonia, início de antibioterapia por suspeita de sobreinfeção bacteriana, necessidade de internamento em unidade cuidados intensivos e taxa de mortalidade.

Material e Métodos: Estudo retrospetivo dos doentes internados por COVID-19, no Centro Hospitalar Tondela-Viseu, de 15 de Março a 18 de Maio de 2020, com recurso aos dados dos processos clínicos do SClínico e ALERT® e análise estatística através do SPSS®.

Resultados: Dos 89 doentes internados por COVID-19 no período em estudo, 38.20% eram mulheres. A idade média foi de 73.26 ± 16.26 anos. Estavam institucionalizados 38.20% dos doentes. Do total da amostra, 55.06% eram hipertensos. Quando comparado os grupos de doentes hipertensos vs os não hipertensos, verificou-se que os hipertensos eram significativamente mais velhos (média de idades de 80 vs 65 anos, respetivamente, p=0.0002). A percentagem de mulheres foi significativamente superior no grupo dos hipertensos quando comparada com os não hipertensos (51.02 vs 22.50%, p=0.006). A prevalência de diabetes mellitus foi significativamente superior no grupo dos hipertensos (42.86 vs 12.50%, p=0.002), assim como a insuficiência cardíaca (42.86 vs 15.00%, p=0.004). Dos sintomas mais prevalentes da COVID-19, a dispneia foi mais frequente no grupo dos hipertensos (57.14 vs 52.50%, p=0.661), mas não a tosse (42.90 vs 57.50%, p=0.169), nem a febre (44.90 vs 55.00%, p=0.343). Não se verificaram diferenças significativas entre grupos quanto aos parâmetros analíticos e gasométricos no serviço de urgência, nomeadamente: leucócitos (10.5 vs 9.23 x 109/L, p=0.361), neutrófilos (7.39 vs 7.09 x 109/L, p=0.801), linfócitos (1.20 vs 1.18 x 109/L, p=0.801), plaquetas (213.64 vs 207.15 x 109/L, p=0.723), proteína C reativa (7.99 vs 7.74 mg/dL, p=0.862), procalcitonina (1.82 vs 4.08 ng/mL, p=0.516),  pH do sangue arterial (7.45 vs 7.44, p=0.715), lactatos (1.77 vs 1.33 mmol/L, p=0.294) e a razão PaO2/FiO2 (254.60 vs  278.26, p=0.211). A percentagem de doentes com evidência radiográfica de pneumonia foi idêntica nos dois grupos (55.10 vs 65.00%, p=0.344), assim como o início de antibioterapia por suspeita de sobreinfeção bacteriana (67.35 vs 62.50%, p=0.633). Não se verificaram diferenças significativas na necessidade de internamento em unidade de cuidados intensivos (8.16 vs 15.00%, p=0.335).  O número médio de dias de internamento foi ligeiramente superior no grupo dos hipertensos (19.08 vs 14.95 dias, p=0.173), mas não houve diferenças significativas na mortalidade (12.24 vs 17.50%, p=0.485).

Conclusões: À semelhança do descrito na literatura, a HTA foi altamente prevalente na nossa amostra e estes doentes eram em média mais velhos e tinham mais comorbilidades. Ainda assim, não foram verificadas diferenças significativas na apresentação clínica, alterações analíticas e radiográficas, nem na gravidade da doença e no seu prognóstico.

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Publicado

2023-02-01

Como Citar

1.
Cunha I, Aparício D, Lopes A, Bagnari I, Cunha J, Marques R, Romão V. IMPACTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL NA COVID-19. RH [Internet]. 1 de Fevereiro de 2023 [citado 3 de Dezembro de 2024];(93):10-8. Disponível em: https://revistahipertensao.pt/index.php/rh/article/view/53

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Artigo Original