A IMPORTÂNCIA DA SEMIOLOGIA MÉDICA – UM CASO DE SÍNDROME DE ROUBO DA SUBCLÁVIA
DOI:
https://doi.org/10.58043/rphrc.71Palavras-chave:
Hipertensão arterial, Síndrome de Roubo da SubcláviaResumo
A síndrome de roubo da subclávia resulta da reversão do fluxo na artéria vertebral em consequência de uma estenose/oclusão hemodinamicamente significativa do segmento pré-vertebral da artéria subclávia. É relativamente raro (prevalência europeia estimada de 1.3%), em grande parte devido ao subdiagnóstico. Além das manifestações sensitivo-motoras do membro afetado, as principais complicações incluem insuficiência vertebro-basilar e isquemia cerebral transitória.Apresenta-se o caso de uma mulher de 61 anos, aparentemente assintomática, que vem a consulta de vigilância. Por se tratar do primeiro contacto entre médico/doente, é realizada medição da tensão arterial (TA) em ambos os membros superiores (MS), verificando-se diferencial entre o esquerdo (MSE) e o direito (MSD) superior a 15 mmHg (TA MSE 147/94 mmHg e TA MSD 120/83 mmHg), mantido após medições seriadas. Foi também objetivada a ausência de pulsos palpáveis no MSD, palpando-se pulsos radial e umeral amplos, rítmicos e regulares no MSE. Não apresentava outros achados no exame objetivo, nomeadamente ao nível do índice tornozelo-braço ou dos pulsos dos membros inferiores. Referiu ter suspendido a terapêutica anti-hipertensora há cerca de ano e meio por aparente má tolerância, mas revelando aparente controlo tensional sem qualquer medicação durantes as medições tensionais no domicílio, exclusivamente no MSD.
Foi reintroduzida terapêutica anti-hipertensora em monoterapia na dose mínima necessária e solicitada ecografia com estudo doppler arterial dos MS e carotídeo. Posteriormente, objetivou-se uma normalização tensional no MSE com boa tolerabilidade ao anti- hipertensor instituído, embora mantido o diferencial entre membros. Quando novamente questionada sobre sintomatologia prévia, a doente recorda parestesias matinais esporádicas, mas recorrentes e localizadas ao MSD, que associava a compressão durante o sono. Dos exames realizados, foi detetada a “inversão do fluxo na artéria vertebral direita e franca redução do fluxo na artéria subclávia direita, sugestivo de estenose do tronco arterial braquiocefálico com síndrome do roubo completo da subclávia (...) e presença de insuficiência arterial com curvas velocidade bifásicas em todos os eixos arteriais do MSD”.
Foi referenciada a consulta de Cirurgia Vascular, onde foi iniciada antiagregação plaquetária e solicitada angio-TC que confirmou o diagnóstico. Por agravamento das parestesias e surgimento de paresia do mesmo membro, foi proposta para cateterismo, que decorreu sem intercorrências. Após a intervenção, a doente deixou de apresentar sintomas ou diferencial tensional entre MS.
Este caso reforça a importância de uma anamnese completa, sustentada por uma comunicação efetiva, e de um exame objetivo dirigido mas meticuloso, pilares da semiologia médica, na deteção precoce de entidades nosológicas com potencial impacto na qualidade de vida dos doentes, evitando uma investigação subsequente exaustiva e desnecessária. A escuta ativa e reflexiva do doente sobre a sua condição, queixa ou preocupação conduz a verdadeiras “pistas” para a formulação de hipóteses diagnósticas, espetro esse que se estreita quando as melhores práticas de exame objetivo médico são respeitadas.
Downloads
Referências
- Potter, B., Pinto, D. Subclavian Steal Syndrome. Circulation 2014; 129:2320–2323
- Granito, S., Azevedo, I. Atherosclerosis – apropos of a subclavian steal phenomenon. Sociedade Portuguesa de Medicina Interna 2011; volume 18, número 1.
- Saha T., Naqvi SY. Subclavian Artery Disease: Diagnosis and Therapy. The American Journal of Medicine 2017; 130(4):409.
- Gutierrez GR., Mahrer P. Prevalence of subclavian artery stenosis in patients with peripheral vascular disease. Angiology 2001; 52(3):189.
- Labropoulos N., Nandivada P. Prevalence and impact of the subclavian steal syndrome. Annals of Surgery 2010; 252(1):166.
- Shadman R., Criqui MH. Subclavian artery stenosis: prevalence, risk factors, and association with cardiovascular diseases. Journal of the American College of Cardiology 2004; 44(3):618-23.
- Cua B., Mamdani N. Review of coronary subclavian steal syndrome. Journal of Cardiology 2017; 70(5):432.
- Clark, C., Taylor, R. Association of a difference in systolic blood pressure between arms with vascular disease and mortality: a systematic review and meta-analysis. Lancet 2012; 379:905–914.
- Wang K., Wang Z. Long-term results of endovascular therapy for proximal subclavian arterial obstructive lesions. Chinese Medical Journal 2010; 3:45–50.
- Rockman, C. The Vertebral Artery in the Vascular Lab: What Does It Mean? New York University Langone edical Center
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2023 João R. Nunes Pires, Raquel Baptista Leite, Catarina Moita, Ana Sofia R. Silva, Violeta Florova
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.