DISFUNÇÃO RENAL NA HTA - PARA ALÉM DO ÓBVIO

Autores

  • Carolina Midões Interno de Formação Específica em Medicina Interna; Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, CHULC, EPE, Portugal
  • Filipa Cardoso Interno de Formação Específica em Medicina Interna; Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, CHULC, EPE.
  • Teresa Souto Moura Assistente Hospitalar em Medicina Interna; Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, CHULC, EPE

DOI:

https://doi.org/10.58043/rphrc.96

Palavras-chave:

hipertensão arterial, doença renal crónica, disfunção renal, proteinúria

Resumo

A doença renal crónica (DRC) define-se como a presença de taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) inferior a 60mL/min/1.73m2, durante 3 ou mais meses, independentemente da causa. Os estadios KDIGO (Kydney Disease Improving Global Outcomes) G3 a 5 têm uma prevalência de cerca de 10% na população adulta. Os fatores de risco que mais contribuem para o seu aparecimento e progressão são a hipertensão arterial (HTA) e a Diabetes Mellitus (DM), sendo o controlo destas, essencial para a prevenção da DRC.

Apresentamos o caso de um homem de 48 anos, melanodérmico, com história conhecida de DM tipo II, HTA mal controlada, DRC estadio KDIGO G3a (creatinina basal 1.6 mg/dL, TFGe 48mL/min/1.73) e obesidade. Referenciado à consulta de HTA por perfil tensional grau 3, sob 3 antihipertensores e um diurético. Procedeu-se a investigação de causas secundárias e caracterização de lesão de órgão alvo. Verificou-se albuminúria A2, razão proteínas/creatinina urinária aumentada (241.7 mg/gr) e eletroforese de proteínas com aumento de gama globulinas. Imunofixação sérica detetou pico monoclonal IgG. Colocada a hipótese de mieloma múltiplo, que foi confirmada por mielograma e biópsia óssea. Encaminhado para Hematologia Clínica, encontrando-se sem progressão de doença e em vigilância. Após ajuste terapêutico, o perfil tensional encontra-se controlado com 4 antihipertensores e um diurético. Este caso ilustra a necessidade de pesquisa de HTA secundária em certas condições clínicas, nomeadamente na presença de HTA resistente e agravamento da função renal com proteinúria, mesmo em doentes com HTA de origem provavelmente essencial. Mais ainda, neste caso, surge a dúvida sobre a relação e etiologia da DRC e da HTA: o “óbvio” seria a DRC como consequência da nefropatia diabética e hipertensiva, contudo, o diagnóstico poderá ter agravado, não só a DRC, como a própria HTA. A dúvida mantém-se, uma vez que não tem indicação hematológica para tratamento ativo.

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Publicado

2023-07-27

Como Citar

1.
Midões C, Cardoso F, Souto Moura T. DISFUNÇÃO RENAL NA HTA - PARA ALÉM DO ÓBVIO. RH [Internet]. 27 de Julho de 2023 [citado 21 de Dezembro de 2024];(96):28-35. Disponível em: https://revistahipertensao.pt/index.php/rh/article/view/96

Edição

Secção

Caso Clínico