HIPERTENSÃO RENOVASCULAR NEONATAL E LESÃO ÓRGÃO- ALVO
DOI:
https://doi.org/10.58043/rphrc.27Palavras-chave:
Neonatal, hipertensão secundária (renovascular), lesão órgão-alvoResumo
Introdução: A hipertensão arterial neonatal define-se como valores tensionais superiores ao percentil 95 para a idade pós- menstrual e, nesta faixa etária, é geralmente secundária a doença renal (parenquimatosa ou renovascular). A lesão de órgão-alvo pode estar presente sendo potencialmente reversível, pelo que o diagnóstico e a instituição de terapêutica dirigida à causa devem ser precoces.
Descrição de caso: Recém-nascida de termo, 2a filha de pais jovens e não consanguíneos, mãe diabética (diabetes mellitus tipo II), surgiu ao 3o dia de vida com dificuldade alimentar, hiporreatividade e com valores de hipertensão arterial, sem diferencial nos quatro membros, sem alteração na palpação dos pulsos. A avaliação cardíaca com ecocardiograma revelou compromisso da função biventricular, dilatação das cavidades direitas e hipertrofia do ventrículo esquerdo. A avaliação analítica inicial da função renal foi normal e a ecografia renal com doppler colocou a suspeita de estenose da artéria renal esquerda. A angiografia por tomografia computorizada (angio-TC) abdominal confirmou a estenose e obliteração da artéria renal esquerda, com redução da sua permeabilidade e ausência de perfusão do rim homolateral. Efetuou-se um cateterismo para melhor esclarecimento etiológico e tentativa de resolução da situação clínica, colocando-se a hipótese de obstrução por trombo, motivo pelo qual iniciou terapêutica com heparina de baixo peso molecular. A terapêutica hipotensora instituída inicialmente por via endovenosa foi ao 17o dia de vida substituída por terapêutica oral com melhoria gradual e controlo dos valores de pressão arterial. Teve alta aos 30 dias de vida, com acompanhamento multidisciplinar e com controlo dos valores tensionais. A reavaliação cardíaca à data da alta revelou regressão das alterações inicialmente descritas. A evolução nefrológica revelou a perda de função do rim esquerdo, compatível com a presença de estenose funcionalmente significativa da artéria renal esquerda. Foi submetida a nefrectomia esquerda aos nove meses. O exame anatomopatológico foi compatível com o diagnóstico clínico de estenose da artéria renal esquerda por provável hipoplasia desta. Mantém o seguimento e atualmente já sem terapêutica hipotensora.
Conclusão: A hipertensão neonatal é rara e está habitualmente associada a causa secundária, sendo na maioria dos casos tratável. A lesão de órgão-alvo pode surgir em idades tão precoces como o período neonatal. Uma abordagem precoce e adequada permite a reversão dos achados, com um bom prognóstico.
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